Por: Jeanne Smits (LIFESITE News), 08/01/2016
Tradução: Traditio Catholicae
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Numa taxativa
entrevista, o arcebispo emérito de Bruxelas adverte que a ambigüidade no texto final
do Sínodo foi “muito perigosa”, mas diz crer que o Papa manterá sua palavra e
defenderá a Tradição Católica.
BRUXELAS, 8 de janeiro
de 2016 (LifeSiteNews) – Pouco depois de deixar a sé de Mechelen-Bruxelas aos
75 anos de idade – idade oficial para aposentadoria dos prelados da Igreja
Católica Romana – o Arcebispo André Léonard, ex primado da Bélgica deu uma
entrevista de longo alcance para o semanário francês Famille chrétienne. O Bispo Léonard fez observações diretas incomuns
sobre crise de vocações, as perigosas “ambigüidades” do recente Sínodo das
Famílias e outros assuntos controversos. Na Bélgica liberal ele teve reputação de
ser conservador e até mesmo intolerante – o contrário do seu sucessor, Jozef De
Kesel, ex bispo auxiliar do Cardeal Danneels da infame “máfia de Sankt-Gallen”.
Léonard foi até mesmo atacado por um grupo de ativistas de topless do “Femen” em abril de 2013: elas o encharcaram com água
durante uma conferência, o acusando de “homofobia” por suas declarações sobre a
“anormalidade” do homossexualismo.
Mas ele nunca vacilou.
Respondendo à jornalista do Famille
chrétienne, ele disse: "Estou
convencido de que o Magistério da Igreja é válido, mesmo nas questões mais
sensíveis e controversas".
Sob sua liderança, o
número de seminaristas progrediu dez vezes em sua diocese, crescendo de 4 quando
ele chegou, para 55 em sua partida. O Arcebispo
Léonard também é conhecido por sua abertura para as instituições católicas
tradicionais, como a Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) e o
Instituto de Cristo Rei, ambos os quais ele recebeu em Bruxelas. Pouco antes de
deixar a Bélgica para se aposentar no santuário francês mariano de Notre Dame du Laus, ele celebrou a Missa
na forma extraordinária do Rito Romano na igreja de Minims onde ele havia
nomeado um padre da FSSP como vigário vários anos antes.
De especial interesse aos
leitores do LifeSiteNews são as respostas da entrevista de Léonard sobre o
Sínodo da Família. Antoine Pasquier do Famille
chrétienne o perguntou: "O
segundo Sínodo sobre a Família teve lugar em Outubro. O texto final é aberto à
interpretação. Como o senhor o leu, tendo participado na primeira sessão?”
"O que mais fundamentalmente
está em jogo no Sínodo é a aliança - em todas as alegrias e sofrimento das
famílias e casais - de amor e de verdade."
O Arcebispo Léonard
respondeu sem rodeios: "Eu não tive
a impressão de progresso real de um sínodo para o outro, em vez disso houve uma
repetição do que já havia sido dito. Isso me deixou um pouco insatisfeito. Há
coisas boas no texto final, mas eu fiquei um pouco desapontado com o fato de
eles terem cultivado ambigüidade em torno das questões mais sensíveis. Alguns bispos me disseram que os textos foram
deliberadamente formulados de maneira ambígua, a fim de deixá-los abertos à
interpretação em diferentes direções. Tal ambigüidade sobre
questões-chave é muito arriscada, pois poderia dar lugar a práticas que seriam
muito difíceis de reverter, uma vez que foram instituídas e desenvolvidas.”
"Portanto
eu espero", disse ele, "que teremos uma abordagem diferenciada e benevolente, mas que
continuará a ser clara sobre os ensinamentos doutrinais e disciplinares da
Igreja Católica sobre o casamento e a família. A
bola está agora com o Papa. Chegou a hora dele cumprir seu ministério petrino
de unidade e continuidade da Tradição, como ele declarou que faria em
sua declaração final, no fim do primeiro Sínodo da Família. O que mais
fundamentalmente está em jogo no Sínodo é a aliança - em todas as alegrias e
sofrimento das famílias e casais - de amor e de verdade. Assim diz o Salmo 84: ‘Amor e verdade se encontrarão; a justiça e a
paz se beijarão (se darão as mãos)’.A Igreja deve
ser de uma só vez misericordiosa, acolhendo todos com abertura de coração, e
fiel aos seus ensinamentos sobre o matrimônio e a família".
O Bispo Leonard foi
igualmente claro sobre a idéia de delegar mais poder para as conferências
episcopais em matéria de disciplina.
"Isso
não é uma boa idéia", disse ele. "Acho que é difícil ver como a disciplina pode ser modulada de um
país para outro ou de um continente para outro. Eu acharia extremamente
arriscado aos países ocidentais ser permitida uma disciplina mais flexível. Que
tipo de imagem isso daria à Igreja? Será que os cristãos dos países mais ricos,
além dos maiores confortos que a maioria deles desfrutam, também se beneficiariam
de uma disciplina mais confortável? Seria um grande escândalo! Por outro lado,
existe um ponto em que a diversidade de locais devem ser tidas em conta: na
aplicação pastoral no que diz respeito aos diferentes problemas que aparecem em
diferentes continentes, de modo a proporcionar soluções adequadas."
A franqueza do Arcebispo
Léonard valeu-lhe não pouca oposição durante seus cinco anos como primaz da
Bélgica: uma nação de maioria católica que deu inúmeros missionários para a
Igreja na primeira metade do século XX, mas onde o relativismo tornou-se um
modo de vida e a prática religiosa tem despencado. Setenta por cento dos
menores de trinta anos agora declaram não haver qualquer tipo de ligação com a
Igreja Católica e apenas 25 por cento dos casamentos envolvem uma cerimônia
religiosa. O declínio acelerado sob o (comando do) Cardeal Danneels, que foi
primaz da Bélgica entre 1979 e 2010: ele era da veia da maioria dos bispos
belgas que desafiavam abertamente o ensinamento de Paulo VI sobre a
contracepção em Humanae vitae em
1968. Como o arcebispo Léonard lida com essa oposição dentro e fora da Igreja?
"Em
parte com convicções fortes, em parte por temperamento,"
ele respondeu. "Durante meus anos de
sacerdócio, na convicção da Igreja em respeito aos diferentes aspectos da
existência humana. E estou convencido de que o Magistério da Igreja é válido,
mesmo nas questões mais sensíveis e controversas. Eu sempre julguei que a minha
missão era ser um eco dos ensinamentos de Cristo e da Igreja sobre o destino
humano. Por isso nunca me perturbou remar rio acima, às vezes, contra a
corrente da sociedade e do espírito dos tempos. Você não diria que isso é um
pouco normal? Uma proporção significativa do Evangelho vai contra a natureza. São
Paulo, falando aos Romanos, disse: ‘Não vos conformeis com esta época’”.
"Se um homem quer dar
sua vida a Cristo, o bispo deve se encontrar com ele! Quando um jovem sente que
é importante aos olhos do bispo de sua diocese: isso irá ajudá-lo a fazer sua decisão."
Léonard passou a dizer:
“Minhas convicções suscitaram reações variadas:
houve aqueles que ficaram felizes em ouvir uma linguagem clara que verdadeiramente
os encorajaram a viver suas identidades católicas, e houve outros que
protestaram, às vezes mesmo entre os cristãos por realmente não terem gostado –
mesmo num mundo onde a liberdade é considerada o valor supremo – que um bispo
deve pensar diferentemente da mentalidade dominante. Este tipo de oposição ou discordância
é, de certa forma, inevitável. É a sua ausência que tem me incomodado. Jesus não
nos prometeu sucesso, mas sim contradição. Mas estas pequenas misérias são apenas
uma pequena parte do meu ministério, e não são nada comparadas com o que os
bispos sofreram durante os primeiros séculos da Igreja, ou com o que os bispos
sofrem hoje no Oriente Médio ou na Ásia!.”
Apesar da sua reputação
de “rigidez” e “intolerância” apregoadas pela mídia belga, as posições católicas
firmes de Léonard e claras condenações das manifestações da cultura da morte
num país que tem sido um precursor na engenharia social não detiveram os jovens
na Bélgica, de responder a seu chamado ao sacerdócio; mas pelo contrário.
Quando lhe pediram para
explicar o repentino aumento das vocações sob sua liderança em
Mechelen-Bruxelas, Léonard deixou claro que o que contava em seus olhos era a
atitude do bispo para jovens que acham ter uma vocação: isso exige boas-vindas
e proximidade, ele disse. "Eu nunca
mandei embora um jovem que veio me ver, eu nunca disse a ele para ir primeiro
ver o escritório de vocações da diocese, eu sempre os acolhi. Se um homem quer
dar sua vida a Cristo, o bispo deve se encontrar com ele! Quando um jovem sente
que é importante aos olhos do bispo de sua diocese: isso irá ajudá-lo a fazer a
sua decisão. Eu não tenho nenhuma receita milagrosa. Eu simplesmente sempre me
mantive aberto às realidades à qual o Espírito Santo ergue na Igreja. (...)
Todos os que se apresentam não vão necessariamente se tornar padres, o
discernimento é necessário, mas antes de tudo, deve haver uma atitude
acolhedora. Que alegria para um bispo atender um
homem que quer a consagrar-se à Igreja! Que presente maravilhoso!”
Arcebispo André Léonard, ex- primaz da Bélgica |
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