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segunda-feira, 12 de junho de 2017

Somente quando a Fé estiver em questão

Arcebispo Lefebvre na cidade de Phoenix, EUA, dando uma Primeira Comunhão em 1983
Fonte: SSPX, District of the USA

Por: SSPX, District of the USA (FSSPX, Distrito dos EUA), 12 de junho de 2017
Tradução: Traditio Catholicae
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Conferência do Arcebispo Lefebvre de 1983 em Ridgefield

Em 24 de abril de 1983, o Arcebispo Lefebvre deu uma conferência aos seminaristas do Seminário Santo Tomás de Aquino em Ridgefield, Connecticut. O contexto era a oposição de nove sacerdotes (apenas um ordenado) e alguns seminaristas que haviam desobedecido as instruções de Sua Excelência em seguir os livros litúrgicos de 1962.

Apesar da desobediência à sua diretiva, o Arcebispo tentou argumentar com eles, mas acabou sendo obrigado a expulsá-los da Fraternidade São Pio X por uma obstinada recusa em obedecer a seu superior.

Como a oposição tinha sido liderada pelo ex-reitor do seminário, o Arcebispo Lefebvre decidiu com prudência adiar as ordenações do diaconato que estavam programadas para esse ano. Ele queria garantir que os futuros diáconos seguissem voluntariamente a política da FSSPX em relação aos livros litúrgicos a serem usados.

Durante a conferência, ele explicou seu motivo para decidir sobre os livros litúrgicos de 1962 e o princípio em que se baseou, pedindo aos futuros diáconos que considerassem isso e, assim, determinassem sua decisão se pretendessem permanecer membros fiéis da Fraternidade São Pio X .

Apresentamos aqui três extratos da conferência descrevendo a atitude exemplar do Arcebispo Lefebvre e a resposta firme ao lidar com o passado evento histórico da FSSPX.


Extratos da conferência do Arcebispo Lefebvre
Qual é o primeiro princípio para saber o que devemos fazer nesta circunstância; nesta crise na Igreja? Qual é o meu princípio?
O princípio da Igreja é o princípio de Santo Tomás de Aquino. Não é minha escolha; não é o meu favor; não é o meu desejo pessoal ... Não sou nada ... Eu apenas sigo a doutrina da Igreja. Esta doutrina é exposta por Santo Tomás de Aquino.
Então, o que Santo Tomás de Aquino diz sobre a autoridade na Igreja? Quando podemos recusar algo da autoridade da Igreja?
Princípio: somente quando a Fé estiver em questão. Somente neste caso. Não em outros casos ... somente quando a Fé está em questão ... e isso é encontrado na Summa Theologica (II II Q.33, a.4, ad 2m): a resposta de S. Tomás é que não podemos resistir à autoridade; devemos obedecer:
1. "Sciendum tamen est quod ubi immineret periculum fidei." Periculum fidei, i.e, (ou seja), o perigo à nossa fé ... 
2. "etiam publice essent praelate a subditis arguendi.", ou seja, o subordinado pode se opor à autoridade se a Fé estiver em questão ("periculum fidei");
3. "Unde et Paulus, qui erat subditus Petro, propter imminens periculum scandali circa fidem, Petrum publice arguit”, ou seja, São Paulo se opôs a São Pedro porque havia um perigo para a fé (cf. Gálatas II, 11).
Esse é o princípio (de Santo Tomás), e não posso abrigar outro motivo para resistir ao papa ... é muito sério se opor ao papa e à Igreja. É muito grave, e se pensarmos que devemos fazer isso, devemos fazê-lo (resistir ao Santo Padre) apenas para preservar a nossa Fé, e não por qualquer outro motivo.
Agora devemos fazer uma aplicação do princípio. Para mim, penso que a reforma litúrgica do Papa João XXIII não tem nada contra a Fé. Você pode tomar o Pontificale, o Rituale, o Breviário, o Missal Romano, e ... o que há nesses livros do Papa João XXIII que seja contra a Fé? Nada! E assim [num tom urgente]: ... Não posso recusar este livro (do Papa João) porque ele é o Papa e o Papa me deu esse livro (e devo obedecer).
É outra coisa com a reforma do Papa Paulo VI ... neste livro da reforma do Papa Paulo VI há um perigo muito grave para a minha Fé ... é precisamente Periculum Fidei. Então eu recuso, porque o ecumenismo é a ideia e o motivo desta reforma ... e este ecumenismo ... eles dizem a si próprios, o Papa Paulo VI, Bugnini, etc., todos dizem que o motivo de sua reforma é o ecumenismo, e esse ecumenismo tira todas as coisas (católicas) que são desagradáveis ao protestante.
(...)
Algumas pessoas abandonam a Fraternidade à esquerda (ou seja, movendo-se para a esquerda) e alguns a abandonam se movendo em direção à direita.
Aqueles que abandonam a Fraternidade à esquerda, agora usam o rito da Missa Nova ... são progressistas ... eles não são mais contra o progressismo.
Aqueles que nos abandonam à direita, para eles, não há mais nenhuma relação com Roma, não há mais relação com a Igreja, e eles procuram (por um papa em outro lugar) ... como no caso do Pe. G--, onde ele foi para a Espanha para ver se o famoso Palmar De Troya [um culto cismático "tradicionalista" na Espanha que elegeu seu próprio "papa" - Ed.], Ou seja, Clemente ... ele foi lá para ver se Clemente é o verdadeiro papa! Porque tais sacerdotes (que abandonam em direção à direita) procuram por autoridade; (por natureza) eles não podem permanecer sem autoridade ... porque eles não têm nenhuma ... não têm nenhuma.
(...)
Esta situação é muito triste porque pensei que estava ajudando meus sacerdotes (desde que eu lhes dei) todas as minhas orações, todo meu espírito, todo meu coração.
Eu dei tudo isso a esses sacerdotes ... ["Os Nove" que foram expulsos - Ed.] e fizeram um bom trabalho ... Mas é uma pena agora ... o que acontecerá com os fiéis? ... os pobres fiéis, se eles sabem que cinco ou seis ou sete sacerdotes não são mais membros da Fraternidade São Pio X?
O que aconteceu? Eles ficarão perplexos ao saber que é verdade, esses sacerdotes não são mais membros da Fraternidade ... [com grande angústia e dor de cabeça]; ... é muito triste, muito triste para os fiéis. Conheço esses fiéis americanos ... eles são pessoas muito boas ... e agora ... o que posso fazer?"
Talvez seja minha culpa, porque esperei muito tempo ... se eu tomasse essa decisão há três ou quatro anos, talvez a situação não fosse tão grave quanto agora. Mas talvez eu seja muito indulgente, muito tolerante, muito bom para eles, porque não gosto de ir contra meus irmãos, meus sacerdotes.
Então eu os tolerei ... Pensei que talvez no próximo ano, ou algum tempo, as coisas mudassem ... mas verdadeiramente nada mudou ... não está melhor ... na verdade as coisas pioraram com o tempo.
Assim, devemos rezar ... devemos rezar.
Espero que, lentamente, lentamente, possam retornar ao bom caminho, no bom progresso do seminário ... e espero poder dar-lhes a ordenação. Precisamos de sacerdotes ... mas não precisamos de sacerdotes que desobedecem, não.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Absurdamente, diocese no Reino Unido diz a católicos como venerarem 'divindades' pagãs


Por: Pete Baklinski, 06/06/2017
Tradução: Traditio Catholicae
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SHEFFIELD, Reino Unido, 6 de junho de 2017 (LifeSiteNews) - Uma diocese católica no Reino Unido está encorajando os católicos a visitarem santuários pagãos de modo a "reverenciarem" imagens pagãs e comerem alimentos "abençoados" em rituais pagãos no espírito do "ecumenismo" e do "diálogo".

Nesta guidelines for visiting pagan shrines [diretrizes para visitar santuários pagãos] (clique em Ecumenism & Interfaith), a diocese católica de Hallam dirigida pelo Bispo Ralph Heskett, encoraja os católicos a levarem flores para Buda, a reverenciarem ídolos hindus (imagem de divindades) e a reverenciarem o livro sagrado sikh [1]. Os católicos também são encorajados a comerem a comida oferecida a eles que são "abençoadas" em rituais hindu e sikh.

O Bispo Heskett não respondeu à pergunta feita pela imprensa. LifeSiteNews o perguntou como ele poderia justificar a recomendação do Primeiro Mandamento que diz: "Eu sou o Senhor teu Deus; Não terás outros deuses diante de Mim".

O presidente do Instituto Lepanto Michael Hichborn disse que as diretrizes não apenas desviam os católicos, mas desonram os primeiros mártires cristãos.

"Os primeiros mártires cristãos se recusavam até mesmo a uma pitada de incenso para os demônios pagãos, sofrendo [por causa da recusa] terríveis torturas e morte", disse ao LifeSiteNews.

"No segundo livro de Macabeus, Eleazar se recusou até mesmo a fingir comer carne de porco. E agora, um bispo católico está encorajando os fiéis a venerarem imagens pagãs, a fazerem doações a templos budistas e a consumirem alimentos ritualmente "abençoados". É da responsabilidade do clero nos ajudar a manter e fortalecer nossa relação com Cristo, não nos dizer como engajar na idolatria", ele adicionou.

Hichborn disse que as diretrizes revelam a crise dentro da Igreja Católica. "Nosso Senhor perguntou se o Filho do Homen ainda encontraria fé quando retornasse. Com esse bispo defendendo a veneração de ícones pagãos e promovendo doações a templos budistas, é uma questão que nós podemos agora começar a questionar. Pode haver indicação mais clara de que a Igreja está sofrendo uma crise de fé, até mesmo ao ponto da apostasia?" ele disse.

O Catecismo da Igreja Católica ensina que o Primeiro Mandamento contra a idolatria requer que "o homem não creia, nem venere outras divindades além do único verdadeiro Deus".

"Idolatria não se refere apenas à falsa adoração pagã. Permanece uma constante tentação à fé. Idolatria consiste em divinizar o que não é Deus."

"Muitos mártires morreram por não adorarem 'a besta', recusando-se até mesmo a simularem tal adoração. A idolatria rejeita a única senhoria (domínio) de Deus; é, portanto incompatível com a comunhão com Deus", diz o Catecismo.

A versão de 1949 do Catecismo de Baltimore [2] diz que um "católico peca contra fé por participar de uma adoração não-católica, porque ele professa uma crença numa religião que ele sabe que é falsa".

O Catecismo de Baltimore adiciona ainda que uma pessoa "peca por idolatria quando presta a uma criatura a adoração suprema devida apenas a Deus como criador e preservador de todas as coisas".

"Honra divina é prestada somente a Deus. Nos primeiros tempos do cristianismo, muitos cristãos foram mortos por se recusarem a acender incenso diante de ídolos. Os antigos egípcios e muitos pagãos hoje adoram o sol, o fogo, os animais como o crocodilo. Deus puniu os israelitas por sua idolatria", diz [o Catecismo].

Hichborn disse que não é surpresa que a diocese de Hallam esteja agora num colapso financeiro devido a mais de 50 por cento de baixa nos frequentadores da Missa (de 30.000 para 12.000) desde o estabelecimento da diocese.

"O Bispo Heskett parece estar num estado de dissonância cognitiva na qual ele não vê como honrar divindades pagãs pode ter a ver com a diminuição da fé católica no seu próprio rebanho e num resultado de decréscimo da frequência à Missa", ele disse.

"Toda a nossa fé é centrada em torno da Eucaristia. Se o Bispo Heskett leva a sério sua própria salvação e das almas daqueles confiados a ele, e se ele verdadeiramente deseja aumentar o número de fiéis em sua diocese, então ele deve ser completamente devoto de Nosso Senhor na Eucaristia. Não há outra resposta", adicionou.
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Nota da traduçao:

[1] Crença originada entre o fim do século XV e início do século XVI na Índia a partir de influências do induísmo e de um ramo do islamismo.

[2] Catecismo ilustrado usado para a educação católica nos EUA entre os anos de 1885 e 1960.

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Os ataques à santa Missa que contribuem para a destruição da Fé

Que a Igreja passa por uma grande crise de fé está cada vez mais evidente. E alguns por falta de conhecimento da doutrina católica podem se perguntar como pode haver uma crise de fé se a Igreja Católica nunca teve tanta popularidade como hoje com igrejas lotadas e muitos de nossos sacerdotes - da mais baixa à mais alta hierarquia - figurando entre celebridades e queridos da mídia. Bem, aí está o problema pois essa popularidade não vem pela defesa inegociável da fé e moral católicas mas da flexibilização e adaptação da Igreja - através de seus sacerdotes e leigos - ao mundo. Onde o pecado já não é mais tido como o verdadeiro mal da sociedade mas sim os problemas sociais. 

E quando falamos da mais elevada expressão de fé católica que é a santa Missa, vemos igrejas lotadas mas não necessariamente devido a uma devoção piedosa e profunda mas pelos atrativos puramente humanos inseridos nas igrejas. Temos Missas que mal se parecem com Missas, do contrário, parecem meras reuniões sociais, muitas vezes com elementos teatrais ou pior, que são verdadeiros shows musicais. Perdeu-se a noção do sagrado e "a perda do sagrado conduz também ao sacrilégio" [1]; em tais Missas os elementos sagrados passam a ter apenas um papel de formalidade. 
Então tomando por verdadeiro o adágio latino lex orandi, lex credendi - a lei da oração é a lei da fé - que significa basicamente que o modo como rezamos reflete o modo como cremos, vemos o quão grave é a crise de fé que estamos imersos.

Pensando nas atitudes direcionadas à santa Missa que deram origem ou que somaram-se para aprofundar a cise de fé na Igreja, um site católico americano enumerou 5 meios pelo qual a fé pode ser destruída. Segue a tradução.
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Por: Brian Williams (Liturgy Guy), junho/2016
Tradução: Traditio Catholicae
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Aqueles de nós que escrevemos sobre a Igreja Católica e sobre a liturgia especificamente, muitas vezes falamos da contínua crise de fé que constituiu grande parte da narrativa pós-conciliar. O que vimos nos últimos quarenta anos é nada menos que a dessacralização generalizada do mais sagrado ato religioso conhecido pelo homem, o Sacrifício da Missa. Infelizmente, o impacto sobre milhões de fiéis, muitos dos quais simplesmente se afastaram da única, verdadeira Igreja é chocante para dizer o mínimo.

Pode ser bom neste momento lembrar o que o Pe. Robert Southard [2] escreveu na edição de abril de 1974 da Homiletic and Pastoral Review (Revisão Homilética e Pastoral):
"A Igreja Católica sobreviverá neste planeta até o fim dos tempos, crendo, ensinando e praticando essencialmente o que Cristo quer dela... Mas devemos entender essa promessa corretamente. A Igreja neste ou naquele lugar  em particular pode ser destruída. Não há limites para a promessa de Cristo; Ela se aplica à Igreja como um todo, não a todos os membros, paróquias ou dioceses, nem mesmo às nações como um todo."
Compreendendo isso como verdade, podemos olhar para ver quais práticas pós-conciliares e atitudes foram introduzidas na Missa que contribuem para a perda do sagrado. Onde um sentido do sagrado foi perdido, um sentido do sobrenatural foi inevitavelmente perdido também, conduzindo a uma generalizada perda da fé.

Os cinco simples meios de destruição da Fé (em nenhuma ordem particular):

1. Fazer da Missa [algo voltado] para o Homem. Nada corrompe o sentido do sagrado mais do que as liturgias antropocêntricas. Missas versus populum [3], a remoção das grades de altar, e exércitos de leitores e ministros extraordinários da Sagrada Comunhão; todos alimentam o nosso próprio narcisismo, a nossa própria compreensão errada da participação dentro da Missa e influi o orgulho no momento em que a humildade é mais necessária.

2. Distribuição da Comunhão na mão. Dom Athanasius Schneider identificou isso como a maior crise na Igreja hoje. A perda de reverência pela Eucaristia leva à perda da crença na Presença Real de Nosso Senhor. Embora muitos tenham oferecido argumentos convincentes em favor da prática tradicional de receber na língua (incluindo Roma), ninguém pode oferecer uma boa defesa para a nova prática que (até a década de 1970) tinha desaparecido completamente da Igreja por bem mais de um milênio [4].

3. Remoção da beleza objetiva das igrejas. O minimalismo arquitetônico pós-conciliar foi nada menos que um ataque contra a beleza. Belos altares e estátuas clássicas foram descartados nos anos após o Concílio [Vaticano II], quando as paróquias começaram a se parecer mais com casas de reuniões quaker [5], em vez de igrejas católicas.
Assim como a beleza física da Igreja foi removida, também foi sua beleza musical. A recuperação da música sacra, foco de grande parte do movimento litúrgico do século XX (do Papa São Pio X à Constituição do Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia), tem sido largamente ignorada em grande parte da Igreja. Instrumentos profanos e como se já não bastasse, até mesmo hinos e canções de louvor protestantes foram introduzidos no culto católico.

4. Inovação. Constante Inovação. Possivelmente nada tenha contribuído mais para a perda da fé do que a incessante tentativa de alterar continuamente a liturgia. Muito como vimos na esfera secular, o espírito de inovação tem sido constante, levando a uma experimentação litúrgica sem fim. Um sentimento de obrigação de transmitir a tradição que eles próprios haviam recebido foi completamente perdido sob os inovadores. Sua arrogância lhes disse que  deveriam sempre reinventar ... que eles poderiam fazer da Missa “melhor”.
A maior tragédia em tudo isso é que os argumentos mais convincentes a favor da Igreja, sua antiguidade, sua imutabilidade, sua constância (Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e eternamente) foram minados por toda [essa] mutabilidade.

5. O nunca fazer referência ao sobrenatural. As quatro últimas coisas. O destino da nossa alma eterna. A realidade do Céu. A realidade do Inferno. A realidade de Satanás e dos demônios. A realidade do Purgatório. Os sacramentos. O preço do pecado. A morte da alma causada pelo pecado mortal. A destruição forjada pela fornicação, contracepção, sodomia, pornografia, aborto. A obrigação de ir à Missa todos os domingos e dias sagrados de obrigação. A necessidade de se arrepender. Confissão sacramental. A necessidade da oração. A necessidade da oração contemplativa. A necessidade de silêncio.
A grande maioria dos sacerdotes e bispos hoje prega com pouco ou nenhum sentido sobre o sobrenatural. (Não surpreendentemente, eles também não conseguem demonstrar um sentido do sagrado ao oferecer a Missa). Não há urgência em seus ensinamentos. Nenhuma apresentação ousada da verdade que  contrarie as mentiras dos revolucionários culturais. Eles são pais espirituais que se recusam a serem por medo de ofender. São médicos espirituais culpados de má prática por se recusarem a diagnosticar a verdadeira doença ou prescrever o medicamento necessário.
Felizmente, nos últimos anos, estamos começando a ver padres mais conservadores recuperando esse sentido do sagrado e do sobrenatural. O axioma tradicional lex orandi, lex credendi é compreendido e abraçado por estes homens santos. Infelizmente, muito poucos bispos (com apenas algumas exceções notáveis) fizeram qualquer coisa para resolver esses problemas. Até que isso ocorra, é provável que vejamos uma perda contínua de fé e com ela, a perda de incontáveis almas.

Notas da tradução: 

[1] LEFEBVRE, Mons. Marcel. Carta Aberta aos Católicos Perplexos. Rio de Janeiro: Editora Permanência, 2015.  

[2] Padre americano autor do livro “The Life of Christ” (A Vida de Cristo) publicado originalmente em 1955 no formato HQ (história em quadrinhos). O livro é indicado para pré-adolescentes e relata – assim como indica o título – toda a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi relançado nos EUA pela editora Angelus Press conhecida pela publicação de livros católicos tradicionais.


[3] Missa com o padre voltado para o povo como na Missa nova. O contrário de versus Deum (voltado para Deus) como acontece na Missa tridentina onde todos inclusive o sacerdote, ficam voltados para a mesma direção durante a Missa.

[4] De acordo com Dom Athanasius Schneider, Bispo de Astana, no Cazaquistão e especialista em Patrística, a comunhão na mão como se vê hoje, nunca foi uma prática dos primeiros cristãos, mas que teve origem no século XVII entre os protestantes calvinistas por estes não crerem na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Ainda afirma o Bispo Schneider que até o século V era necessário purificar as mãos antes e depois do rito, e a mão de quem recebia a comunhão ficava coberta por um corporal, do qual se tomava a partícula diretamente com a língua e nunca se tocava a Hóstia com os dedos. Após o século V, primeiramente no Oriente e em seguida no Ocidente, a administração da Comunhão passou a ser pelo sacerdote diretamente na boca no fiel. Portanto o gesto amplamente difundido hoje de se tocar na santa Hóstia em nada tem a ver com os primeiros cristãos.

[5] Seita protestante anticlerical originada no século XVII na Inglaterra. Os quakers rejeitam todos os sacramentos e qualquer forma de oração ou culto prescrito. Não há pregadores oficiais; em suas reuniões cada qual prega e reza de acordo com suas inspirações.

sábado, 4 de março de 2017

Mons. Schneider fala do caráter não católico dos eventos em Medjugorje

Em um vídeo gravado em 3 de fevereiro de 2017 no Segundo Congresso Summorum Pontificum realizado em Guadalajara, no México, o Monsenhor Athanasius Schneider, Bispo de Astana no Cazaquistão, falou de Medjugorje e o caráter não católico das supostas e intermináveis "aparições".

Mons. Schneider ao ser questionado sobre as aparições fala da possibilidade de haver conversões e até milagres no local, mas que isto não estaria ligado a uma suposta aparição de Nossa Senhora, mas exclusivamente por causa da fé destas pessoas. Disse:
"Porque Nossa Senhora pode também fazer milagres em Medjugorje. Não porque Ela lá apareceu, mas porque vem gente lá e reza. Porque Ela vê a fé destas pessoas e o arrependimento e concede a elas como boa Mãe a graça e conversão."
O Bispo questiona a origem de tais aparições se seriam do Céu ou fruto da meditação (ou imaginação) dos supostos videntes.
"Eu tenho algumas reservas simplesmente por uma causa, porque já desde [o ano de] 81, tantos anos - mais de 30 anos - são contínuas as alocuções, etc., quase que intermináveis e quase as mesmas palavras, uma rotina. (...) Então, é uma forma de cristianismo não católico, mas carismático ou de visões e estes videntes tornam-se oráculos. Isto não é verdade, isto não é católico.”
Monsenhor Schneider ainda fala do perigo que representam a crença em tais aparições.
Devemos realmente ir na fé que Deus nos deu; na revelação pública e do Magistério. E assim é um perigo que agora estas aparições e contínuas alocuções que se dizem de Nossa Senhora - e que eu não acredito que sejam de Nossa Senhora - que se invente um magistério paralelo ao magistério da Igreja. Um magistério visionário, contínuo. E isto para mim já um sinal de que isto não é católico; não é são.”
Por fim, o Bispo pede para que se evite “essas exagerações visionárias e proféticas” e que ponhamos a confiança no Magistério da Igreja.
“Então é uma coisa muito delicada, mas nós devemos ter claramente o que é católico, o que é são, de evitar essas exagerações visionárias e proféticas. O carisma profético fundamental é o Magistério da Igreja. Este é o carisma profético, fundamental, o Magistério.”

Abaixo, o vídeo: 

Youtube: Adelante la Fe

Ainda neste 1 de março de 2017 foi noticiado pelo ACI Digital a posição do bispo local, Dom Ratko Peric, sobre o que está acontecendo em sua jurisdição. O Bispo de Mostar-Duvno, Diocese na Bósnia-Herzegovina a qual Medjugorje pertence, escreveu de forma direta que “a Virgem Maria não apareceu em Medjugorje” explicando os pontos na “aparição” que justificam sua posição.

Além do posicionamento da igreja local e da Santa Sé após investigações entre 1982 e 1984 e estudo realizado pela Comissão da Congregação para a Doutrina da Fé entre 2010 e 2014, o bispo em seu texto fala das "aparições" de uma figura ambígua que se comportaria de maneira estranha e diferente da verdadeira Virgem Maria. Além disso, a mesma obedeceria aos comandos dos videntes aparecendo a eles sempre que quisessem e não sabendo exatamente por quanto tempo ainda aparecerá, além de passar mensagens estranhas e sem objetivo aparente.


Finalizando, em seu texto o bispo mostra indignação face às histórias nas quais o corpo da Virgem e seu vestido pudessem ser tocados, o que seria algo indigno e escandaloso. Não é difícil de entender a indignação do Bispo nessa questão já que sendo a Mãe imaculada, é algo impensável que as pessoas presentes no local pudessem ter tal contato com a verdadeira Virgem. É algo que contraria as autenticas aparições da Santíssima Virgem como as de Fátima, Lourdes, entre outras.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Cardeal Burke é premiado por líderes pró-vida dos EUA por defender a ‘fé, vida e família’ apesar das perseguições

Por: Pete Baklinski, 27 de janeiro de 2017
Tradução: Traditio Catholicae
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WASHINGTON, D.C., 27 de janeiro de 2017 (LifeSiteNews) Por seu trabalho em "defender a fé, a vida e a família de todos os lados", o Cardeal Raymond Burke recebeu o premio Law of Life Achievement, concedido por líderes pró-vida que se reuniram numa reunião de cúpula antes da Marcha pró Vida em Washington, D.C. ontem (26 de janeiro).

"[O Cardeal Burke] tem sofrido muito pela causa da vida e da família", disse John-Henry Westen, do ‘LifeSiteNews’, à multidão de líderes e ativistas pró-vida que se reuniram na cúpula anual.

"Ele tem suportado alegremente esse sofrimento, sua humilhação pública que tem recebido de todos os lados. Toda vez que você falar com ele, você irá ouvir a sua preocupação que não tem nada a ver com ele mesmo, [mas] sempre pela fé, pela vida e pela família", disse Westen.

O prêmio consiste em uma réplica emoldurada do prego usado para segurar os pés de Cristo à cruz. Ele é dado àqueles que sofreram na luta para defender e proteger a vida e a família. Burke não pôde estar presente ao evento para receber o prêmio.

O cardeal Burke, patrono da Soberana Ordem Militar de Malta e uma das maiores autoridades mundiais sobre o direito canônico católico romano, tem sido um franco defensor dos ensinamentos pró-vida e pró-família da Igreja.

Em seu compromisso com a defesa dos sacramentos, mantendo-se firme na doutrina da Igreja contra o aborto, o cardeal tem insistido com frequência que os políticos católicos persistentemente pró-aborto sejam proibidos de receber a Santa Comunhão, como consta na lei canônica.

Ele tem chamado à luta contra a onipresente ‘mentalidade contraceptiva’, [uma luta] "necessária" para restauração da cultura da vida, e tem defendido os pais como educadores primários de seus filhos e tem defendido fortemente o casamento como a união sagrada entre um homem e uma mulher.

Burke tem exortado os católicos em numerosas ocasiões nos últimos dois anos a se prepararem para o martírio em face da crescente oposição aos claros ensinamentos da Igreja sobre o casamento e a família.

Seu lema "Secundum Cor Tuum" (Segundo o Vosso Coração) vem da oração "Ó bom Jesus, fazei de mim sacerdote segundo o Vosso Coração”.

O Cardeal falou sobre os problemas surgidos durante o Sínodo sobre a Família, afirmando que uma porta para oferecer a Sagrada Comunhão para católicos civilmente divorciados e “recasados” “não existe e não pode existir”. Ele chamou o relatório final do Sínodo de “enganoso de uma forma muito séria” especialmente pelo seu tratamento aos sacramentos e da responsabilidade parental para a educação.

Em uma entrevista de 2015, Burke disse que estava feliz por ser rotulado como "fundamentalista" se isso significasse sustentar os fundamentos da fé.

Ele causou uma tempestade de fogo no ano passado, quando declarou que a exortação do Papa Amoris Laetitia não era "um ato do magistério", mas uma "reflexão pessoal do Papa" e, portanto, não "obrigatória em consciência".

Sua forte e inflexível voz lhe trouxe inimigos, mesmo dentro da Igreja, e nos mais altos níveis.

Em 2013, o Cardeal foi removido pelo Papa Francisco da Congregação para os Bispos, o influente departamento que supervisiona a seleção de novos bispos, enquanto prelados liberais, como o Cardeal de Washington Donald Wuerl e o Arcebispo de Westminster, Vincent Nichols, foram adicionados para substituí-lo. Sob o [pontificado do] Papa Bento XVI, Burke teria desempenhado um papel importante nas nomeações de alguns dos bispos mais ortodoxos dos Estados Unidos e de outras nações.

Burke também foi rebaixado pelo Papa Francisco em 2014 do cargo de Prefeito da Signatura Apostólica devido ao que os críticos disseram ser sua defesa intransigente do ensino da Igreja sobre questões da vida e família. Ele foi removido da Congregação para o Culto Divino em novembro, depois de submeter os "Dubia" ao Papa.

Westen disse aos líderes pró-vida no evento que "não há ninguém que eu tenha visto que use o vermelho mais merecidamente que o Cardeal Burke", referindo-se à cor [das vestes] simbolizando o martírio.

"Ele não se esquivou da verdade, apesar de ser rebaixado, ridicularizado, visado, atacado pela mídia mundial e cruelmente difamado até mesmo por seus irmãos bispos", disse Westen nos comentários adicionais para esta notícia.

A cúpula do Law of Life (Lei da Vida, na tradução literal) reúne líderes pró-vida, estudantes e ativistas a fim de "criar objetivos mensuráveis e realizáveis para defender a santidade da vida humana". Entre os palestrantes deste evento estão Jill Stanek, Lila Rose e David Bereit.

Os premiadoss anteriores do prêmio incluem John-Henry Westen (2013), Michael Hichborn (2014), Mary Wagner e Thomas Brejcha (2015), e David Bereit (2016).

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Cardeal Burke: Quando for insultado por defender a verdade, ‘devote-se mais fortemente’ à Igreja

Por: Lisa Bourne, 19 de dezembro de 2016
Tradução: Traditio Catholicae
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Cardeal Raymond Burke em entrevista à correspondente do LifeSiteNews em Paris, Jeanne Smits, em Roma
(Olivier Figueras/LifeSiteNews)
19 de dezembro de 2016 (LifeSiteNews) - Quando os católicos que procuram permanecer fiéis aos ensinamentos perenes da Igreja ouvem um Papa chamá-los de "rígidos" ou "fundamentalistas" ou "egoístas", eles não devem ficar intimidados ou desanimados, mas aderir mais fortemente aos ensinamentos da fé, disse o Cardeal Raymond Burke em uma entrevista exclusiva por telefone ao LifeSiteNews no fim de semana.

"Cremos em Nosso Senhor Jesus Cristo, [que está] vivo na Sua Igreja, nos seus ensinamentos, na sua sagrada liturgia, na sua vida de oração e na sua disciplina, como os que nos foram transmitidos numa linha ininterrupta desde os tempos apostólicos. E, embora essas declarações sejam muito dolorosas, e eu entendo isso, temos que nos elevar acima desses sentimentos de mágoa e aderir cada vez mais fortemente ao que a Igreja ensina, à sua liturgia sagrada, à nossa vida de oração e devoção e a essa disciplina que protege e promove a nossa vida em Cristo ", disse ele.

As frequentes e fortes críticas do Papa Francisco aos fiéis resultaram em uma compilação chamada "The Pope Francis Little Book of Insults" ("O Pequeno Livro de Insultos do Papa Francisco", na tradução literal), um projeto com mais de 100 inscrições e que cresce semanalmente.

Os frequentes comentários levaram ao editor do First Things, Matthew Schmitz, a escrever em outubro no New York Times que o Papa "construiu sua popularidade à custa da igreja que lidera".

“Tais denúncias desmoralizam os fiéis católicos sem dar aos descontentes qualquer razão para retribuir", escreveu na época.

Burke, que é o patrono da Ordem Soberana Militar de Malta, disse que os fiéis católicos não devem ser desencorajados pelos insultos.

“Eu encorajo os fiéis a não se desencorajarem, a não se deixarem de alguma forma intimidar por esses tipos de declarações, pois eles conhecem Nosso Senhor em Sua Igreja e têm bons guias espirituais para mantê-los próximos de Nosso Senhor. E, portanto, estudando a fé e entrando o mais plenamente possível na vida litúrgica da Igreja, e esforçando-se por levar uma vida disciplinada pela fé, eles permanecerão fortes”, disse ele.

Quando perguntado sobre o que os pais devem fazer quando seus filhos ouvem um Papa dizendo algo que parece estar em desacordo com o que a Igreja ensina, Burke disse que eles devem intervir simplesmente afirmando o que a Igreja sempre ensinou e praticou.

“Temos de fazer uma distinção entre duas vozes ou dois corpos da pessoa que é Papa. A única voz, o único corpo, é a do Vigário de Cristo na terra. E aquela voz que ouvimos quando o Papa anuncia o que a Igreja sempre ensinou e praticou, promove ou nos ajuda a compreendê-la e aplicá-la em nossas vidas diárias. A outra voz, o outro corpo, é a do homem, que pode ter muitos pensamentos e fazer muitas declarações, que não estão relacionadas de modo algum, com o exercício do ofício de Pedro”.

“Assim, quando o Papa parece dizer coisas contrárias aos ensinamentos da Igreja, então não é razoável, nem é uma expressão de fé, agarrar-se a esse tipo de afirmações como se fossem um exercício do magistério papal. E desta forma, os pais podem ajudar os seus filhos a peneirar o que é o coração da fé, o que é aquele único ensinamento - único sacramento - única disciplina, que é a nossa vida em Cristo - de outras declarações ou escritos que não são uma expressão daquela fé e vida sacramental e disciplina", disse ele.

O Cardeal enfatizou que os católicos devem aprender e viver "ensinamentos seguros", como os encontrados em documentos da Igreja como Familiaris Consortio ou Veritatis Splendor.

"É importante então dar testemunho desses ensinamentos, expressá-los, conhecê-los nós mesmos e simplesmente dizer: ‘Mas isto é o que a Igreja ensina’, não importa o que a mídia ou os outros estejam dizendo, ou mesmo se algumas citações do próprio papa pareçam dizer o contrário”, disse ele.

Quando questionado se um clima de medo em Roma está intimidando outros prelados a apoiarem a dubia que ele e outros três cardeais submeteram ao Papa para perguntar se Amoris Laetitia está em conformidade com o ensino moral católico, Burke respondeu que os números não são importantes, mas a verdade.

“Não posso falar pelos outros em relação a uma possível atmosfera de medo, tudo o que posso dizer é que para mim, sei qual é meu dever como bispo e acima de tudo como cardeal, que é um dos princípios dos conselheiros do Santo Padre em seu ofício de preservar e promover a grande tradição da fé, e que tal medo e tal intimidação, como pode existir de tempos em tempos, simplesmente não pode ser uma consideração em relação ao que eu preciso fazer."

O Cardeal contou o exemplo de São João Fisher na Inglaterra durante o reinado de Henrique VIII, que foi o único bispo que sustentou a verdade da fé em relação ao casamento.

"Alguns obviamente tentaram desencorajá-lo a fazer isso, apontando que ele era o único. E ele respondeu corretamente que mesmo se fosse o único, o importante seria apenas que ele estava falando por Cristo e cumprindo seu dever como bispo", disse ele.

O cardeal Burke exortou os católicos a não apenas estudarem a fé, mas também a participarem da vida litúrgica da Igreja, dizendo que com isto permanecerão fortes.

Ele disse que, embora estes sejam tempos muito difíceis, a próxima celebração da Natividade do Senhor "deve nos dar uma nova alegria e uma nova coragem em ser testemunhas fiéis de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a nossa única salvação", e expressou desejos de que a vinda do Senhor assegure os fiéis em Seu amor.

"Sabemos que nossa salvação é encontrada apenas em Jesus Cristo, que está vivo para nós em Sua Santa Igreja", disse o Cardeal Burke. "E assim, devemos nos alegrar com essa realidade objetiva".

"Não é uma ideia, não é um ideal; é uma realidade", acrescentou. "E assim desejo a todos os fiéis uma celebração muito abençoada da Natividade do Senhor e que esta celebração anual confirme a todos os fiéis em seu conhecimento, amor e serviço de Nosso Salvador Nosso Senhor Jesus Cristo em Sua única, santa, católica e apostólica Igreja".

Nota do editor: Pete Baklinski também contribuiu para esta reportagem.

sábado, 17 de dezembro de 2016

O milagre contínuo de Nossa Senhora de Guadalupe


Quando se fala de Nossa Senhora de Guadalupe, a primeira coisa que nos vem à mente é o modo como surgiu a imagem a partir do manto de um índio convertido que levava flores para o bispo a pedido da Virgem Maria que lhe aparecera. O que nem todos sabem é que apenas cerca 4 séculos depois se teve a total dimensão deste milagre. Um contínuo milagre que continua a acontecer até os dias de hoje.



A APARIÇÃO
 


A imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, carinhosamente chamada de “La Morenita” por suas feições que parecem ser mestiças, apareceu na tilma ou manto, de um índio chichimeca da região de Cuauhtitlán (que pertencia ao reino de Textcoco, no México) que após convertido e ser batizado - junto com sua esposa e tio - havia recebido o nome de Juan Diego.

Segundo a tradição, 10 anos após a conquista da capital asteca batizada de Cidade do México, na manhã de 9 de dezembro de 1531 o índio Juan Diego Cuauhtlatoatzin (Cuauhtlatoatzin significa "o que fala como águia") se dirigia a Tlatelolco quando passando pelo Monte Tepeyac foi atraído pelo canto das aves onde ouviu uma voz a chamá-lo. Ao seguir a voz, viu uma jovem que estava em pé e rodeada de luz e que falava na língua culta dos astecas, o nahuatl.

A jovem se identificou como a Virgem Maria e pediu para que o índio fosse ao bispo pedir-lhe que construísse uma “casinha”, um santuário para Ela no campo onde apareceu. O índio foi no mesmo dia falar com o bispo que o recebeu e não acreditou, pedindo-lhe que voltasse depois. No mesmo dia Juan Diego voltou ao monte e falou com a Virgem que lhe disse que procurasse novamente o bispo – Juan de Zumárraga - no outro dia que era domingo. O Bispo Juan de Zumárraga (1476-1548) - que foi o primeiro bispo do México - pediu então uma prova, um sinal para que ele acreditasse que era realmente a Mãe de Deus que tinha enviado o índio.

No topo do Monte Tepeyac Juan Diego encontrou novamente a Virgem Maria e falou-Lhe da requisição do bispo para que lhe fosse enviado um sinal. Maria então pediu para que o índio voltasse no outro dia que Ela lhe daria um sinal.

No dia seguinte o índio não apareceu porque tinha ido atrás de um médico para seu tio que estava gravemente doente. Ele tinha o intento de ir ao encontro da Mãe de Deus no dia seguinte, mas a Virgem Maria foi ao seu encontro questionando sobre o que o preocupava.

“O que acontece meu filhinho mais pequeno? Aonde vais?”

Juan Diego contou do seu tio, ao que a Virgem lhe disse:

“Que não se perturbe o seu rosto, nem seu coração. Não temas esta doença nem nenhuma outra, não fiques aflito, não estou eu aqui, que sou sua mãe? Você não está debaixo da minha sombra e sob o meu cuidado? Não sou eu a fonte da sua alegria?"

Ela então pediu-lhe para que não se preocupasse, pois seu tio já estava curado e que ele retornasse ao local das aparições e recolhesse umas flores e as levasse para Ela. Ele então recolheu as flores, colocou em sua tilma e levou para a Virgem Santíssima que as tocou, arrumou e disse para que as levasse e entregasse para o bispo e somente para ele dizendo-lhe que era “o sinal que a Senhora envia do Céu”.

Assim, na manhã do dia 12 de dezembro o índio voltou a procurar o bispo para lhe entregar as rosas de Castela que nunca crescia no monte Tepeyac, principalmente no inverno. Juan então foi até o bispo onde esperou por bastante tempo para ser recebido não mostrando a ninguém as rosas antes do bispo.

Ao encontrar com o Bispo Zumárraga, Juan Diego contou o que a Virgem tinha lhe dito e desenrolou o manto para lhe mostrar as flores quando ao cair destas, surgiu no tecido a imagem de Maria Santíssima fazendo com que o bispo e todos que ali estavam caíssem de joelhos.

Depois de cumprir sua tarefa, Juan Diego voltou para ver seu tio que estava doente. Ao encontra-lo ele lhe contou que a Virgem tinha aparecido do lado de sua cama apresentando-se pelo nome de Guadalupe.

A história se espalhou rapidamente oralmente seguindo a tradição asteca e também através de escritos que narram o evento.

Entre as fontes indígenas escritas mais próximas da data dos eventos está um documento oficial chamado Nican Mopohva que significa “aqui é dito” escrito 20 anos após as aparições, por um indígena sábio chamado Antonio Valeriano que estudou com os Franciscanos o espanhol e o latim.



A IMPROVÁVEL "TELA"

O manto que Juan Diego usou para colher asa flores e levar para o bispo era um pano simples comprido, formado por 3 peças (das quais a imagem ficou impressa em duas peças) usado pelos índios mais humildes para se enrolarem ou colocar coisas.

Foi feito um estudo no Instituto de Biologia da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM) em 1946 que confirmou que as fibras do tecido correspondiam às fibras de agave.

Miguel Cabrera (1695-1768) pintor mexicano conhecido como um dos grandes expoentes do estilo barroco afirmou que seria absurdo que alguém escolhesse o tecido do manto de Juan Diego por se tratar de um pano grosseiro e por ser composto por dois pedaços de tecido.

O tecido de agave é frágil e dura pouco tempo mas mesmo assim continua intacto mais de 400 anos depois do milagre. Ao contrário, uma pintura de Rafael Gutierrez do final do século XVIII pintada em um tecido semelhante e que foi colocada na igreja de Pocito perto da antiga capela não durou mais de dez anos ficando o material desgastado, com as fibras rompidas e sem cores mesmo estando protegida por vidro.

O ambiente em que se encontrava o tecido da imagem original era muito úmido e salgado e a imagem ficou exposta a essa situação durante praticamente 120 anos sem a proteção de um vidro e só no século XX se tomou medidas para preservar a imagem dos ataques do meio ambiente. Estudos mostraram que o tecido não sofreu nenhum desgaste.

Além disso, um incidente em que ácido nítrico foi derramado acidentalmente durante a limpeza do recobrimento de vidro em 1785 sobre o tecido lhe deixou uma mancha nos cantos que inexplicavelmente começou a desaparecer por si só em alguns dias.

Em outra ocasião, uma bomba dissimulada entre um arranjo de flores foi colocada ao lado da imagem pelo anarquista espanhol Luciano Pérez em um atentado em 1921 destruindo tudo que havia na igreja danificando inclusive um crucifixo de bronze sólido dobrando-o, sendo a imagem da Virgem de Guadalupe a única coisa que permaneceu intacta.


A IMAGEM

O manto não recebeu a preparação prévia que os pintores fazem nas telas para eliminar as irregularidades do material. No caso do manto, desde 1666 há evidências de que não houve essa preparação. As fibras do tecido do manto são tão abertos que se pode ver através dele.

O brilho da imagem da Virgem permanece a mesma desde quando apareceu no manto. Geralmente, as pinturas que foram preservadas e mantiveram a cor, possuem uma base de preparação e receberam uma camada de proteção, um verniz que protege as cores. Ainda assim o verniz se oxida com o tempo.

Nas pinturas par criar a sensação de volume e profundidade são aplicadas diversas camadas de cores e diversas pinceladas com tonalidades diferentes. Diferentemente, na imagem da Virgem de Guadalupe é como se fosse "pintado" com apenas uma pincelada, uma única aplicação de tinta.

Além disso o tecido é grosseiro e cheio de nós, de imperfeições. Curiosamente um dos nós do tecido serve para dar volume aos lábios da Virgem.

Com o uso da fotografia infravermelha no início da década de 1980 pelos professores Jody Smith e o biofísico da Universidade da Flórida, Philip Callahan, membros da equipe científica da NASA, confirmaram que a imagem não recebeu preparação de fundo para a pintura e que havia ausência total de pinceladas com nenhum traço nem técnica de pintura conhecida. Não sendo possível determinar o tipo de pigmento utilizado. 

Através das mais de 40 fotografias infravermelhas retiradas pelos cientistas, contataram que a imagem não está impressa no manto, mas sim a três décimos de milímetro de distancia deste e qualquer um que se aproxime a menos de 10 centímetros da tilma não vê a imagem, mas apenas as fibras do manto. Durante os estudos com infravermelho descobriu-se também que a malha do manto mantém uma temperatura constante de entre 36,6 e 37 graus Celsius, a temperatura normal de uma pessoa viva.

O Dr. Callahan também ficou surpreso com a preservação da imagem após tanto tempo e com o fato dela não ter sido afetada pela fumaça e pela radiação das velas acesas diante da mesma.

Confirmou-se também os resultados de uma análise química feita em 1936 pelo cientista de origem judia Dr. Richard Kuhn, prêmio Nobel de Química de 1938 e 1949 que analisou uma fibra amarela e uma fibra rosada da imagem e cujo resultado foi de que no manto não foi possível identificar pigmentos de origem vegetal, mineral ou animal, ou seja, não havia pigmentos de nenhum tipo; sem resíduos de pintura. Igualmente não se pôde explicar a preservação da imagem que depois de tantos anos ainda foi conservada de um modo tão natural o que não aconteceu com nenhuma das várias réplicas da imagem.

Nos anos 1970 o Padre Mario Rojas, conhecedor do povo asteca mostrou que a imagem de Guadalupe era um códice mesoamericano repleto de símbolos da cultura nahuatl.


OS SÍMBOLOS NAS VESTIMENTAS DA VIRGEM  

A roupa e todas as cores representadas são da realeza. A cor azul turquesa representa o jade que era mais valioso que o ouro. A cor rosa do vestido simboliza o amanhecer, significando que a Vigem apareceu para anunciar o nascimento do Sol de Deus. A cor do amanhecer traz as flores dos cervos nos seus três tipos.

Nos símbolos astecas, um dos mais importantes é a flor de Nahui Ollin com quatro pétalas e um centro onde as pétalas representam os pontos cardeais. Para os astecas isso representava o movimento eterno de Deus, o centro do Universo. Para eles isso significava o mais importante que a imagem tinha. “Com isso Ela dizia que carregava o Menino Jesus. Ela trazia Deus, a Criança Sol para nascer aqui com eles, para que O conhecessem, para que O encontrassem. E eles [os astecas] entenderam tudo isso pela flor de Nahui Ollin”. [1]

A forma das flores no vestido da Virgem tem um significado preciso. “As flores do cervo são chamadas assim porque possuem, ela tem a forma das colinas. É assim que as colinas são simbolizadas em mapas. Como essas flores, com pequenos círculos que terminam em bico porque com isso Ela queria dizer (...) o pico da colina ou monte pontudo”.[2]

"O símbolo do bispo eram as flores. Em uma terra que já estava morta, árida, poeirenta, salgada, onde não havia vida, mas havia flores e para os índios flor e canto significam a verdade. (...) O sinal que estava sendo enviado pela Virgem para o Bispo era o símbolo da verdade”. [3]

Esse sinal fez com que os índios entendessem que se tratava de algo nobre. Para eles Ela era a imperatriz porque somente o imperador Montezuma podia usar o manto azul que significava céu cravejado de esmeraldas. “Ela era mãe porque estava grávida de Deus todo poderoso, porque lá estava a flor de quatro pétalas. Ela era sempre virgem , porque como as donzelas, usava o cabelo solto penteados para baixo simbolizando a virgindade. Portanto, os índios viram no cabelo o sinal de virgindade e na fita a maternidade”.[4]

Na cultura asteca, quando uma mulher estava grávida ela usava uma fita roxa na cintura.

O Prof. Dr. Juán Homero Hernández Illescas realizou um estudo com dois doutores de astrofísica da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), Dr. Cantó Ylla e Dr. Armando Garcia de León. Coletaram a data e a localização das estrelas que correspondiam ao Solstício e Inverno de 1531. Para os astecas o Solstício de Inverno significava o nascimento do Sol novo. Os pesquisadores descobriram que em 1531 o Solstício aconteceu exatamente em 12 de dezembro, dia do milagre do manto de Juan Diego.

De acordo com o Nican Mopohva o milagre de Guadalupe aconteceu no final da manhã quando não era possível ver as estelas no céu.

Traçando as constelações que eram visíveis naquele momento nos territórios do Vale do México o Dr. Hernandéz descobriu que o céu coincidia com as estrelas no manto da Virgem.

No lado esquerdo do manto se veem as constelações do sul composto por quatro estrelas que fazem parte da constelação de Ophiuchus; abaixo se observa Libra e à direita uma das estrelas de Escorpião. Na altura do braço encontram-se duas estrelas da Constelação de Lobo e uma extremidade de Hydra. Abaixo há um quadrangular ligeiramente inclinado da constelação de Sagitário e se observa o Cruzeiro do Sul. Na parte inferior Syrius brilha sozinho.

No lado direito do manto são visíveis as constelações do norte onde sobre o ombro de Maria há um fragmento da constelação de Pastor; abaixo se ver a constelação da Ursa Maior; à sua direita se encontra a Cabeleira de Berenice e abaixo os Cães de Caça; à esquerda se vê Thuban que é a estrela mais brilhante da constelação de Draco; abaixo há outras duas estrelas que fazem parte da Ursa Maior e ainda se vê três estrelas da constelação de Touro.

As estrelas no manto da Virgem reproduzem a disposição das constelações no momento da aparição vistas a partir do espaço e não da Terra. A lua presente na imagem (em quarto crescente) corresponde à disposição astronômica do céu em 12 de dezembro de 1531.

De acordo com o escritor ítalo-mexicano Gutierre Tibón, a palavra México significa “umbigo da lua”.

Gloria Tena, esposa do Dr. Hernandéz, explica que a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe é um códice – um livro onde não existem letras, mas onde todos os desenhos tem um significado. O vestido representa a Terra e as estrelas no manto azul representam o plano do céu.

Estudos sobre a imagem demonstraram que a pintura respeita a chamada proporção áurea que é uma correspondência harmoniosa entre as partes individuais e o conjunto entre espaços e volumes, já conhecida pelos gregos. A proporção áurea de 1,618 está presente na natureza, no homem, nas galáxias e até mesmo na música.

Na imagem da Virgem de Guadalupe a lua aparece sob os pés de Maria Santíssima. Além do próprio nome "México" fazer referencia à lua, não há como deixar de notar a referência desta imagem à passagem do Apocalipse:

"Depois apareceu no céu um grande sinal: uma Mulher vestida de sol, com a lua debaixo de seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. Ela está grávida, e clama com dores, atormentada para dar a luz." (Apocalipse XII, 1-2)

A CANÇÃO DE GUADALUPE

Em 2008 um matemático chamado Fernando Ojeda Llanes fez uma descoberta usando como base os estudos de Pitágoras sobre Matemática e música. Utilizando o retângulo áureo como ponto de partida, descobriu que os símbolos do vestido e as estrelas do manto se encaixavam como pausas e notas musicais, resultando na descoberta de uma melodia real na figura da Virgem de Guadalupe.


OS OLHOS DA VIRGEM

O Engenheiro peruano José Aste Tonsmann retomou um estudo da década de 1960 sobre a existência de figuras humanas impressas nos olhos da Virgem de Guadalupe

O Engenheiro usou a técnica do processo de imagem digital que era a mesma tecnologia usada pela NASA para estudar as imagens enviadas do espaço. Foi utilizado pixels de 25 mícrons x 25 mícrons ou milésimos de milímetros; em cada milímetro quadrado havia 1600 pequenos pontos que foram ampliados em até 2000 vezes.

Na imagem ampliada dos olhos da pintura, notou-se que há uma figura de um índio sentado com as pernas cruzadas que é como os astecas sentavam na época, sendo possível notar inclusive uma argola na orelha do índio. Também foi possível identificar a figura que corresponde à imagem do Bispo Juan de Zumárraga pintadas na época, além da figura de Juan Diego com um manto no pescoço. 

Outra figura encontrada foi de uma mulher com características da raça negra. Ao lado da figura do bispo encontra-se uma figura de um jovem da raça branca que poderia ser o tradutor, que de acordo com a história das aparições é Juan Gonzalez.

As últimas figuras descobertas pertencem a um grupo familiar: pai, mãe, 2 filhos e um casal de adultos em que a mulher leva uma criança nas costas. No total, são 13 figuras humanas – agrupadas em duas cenas - que aparecem nas pupilas dos dois olhos da Virgem de Guadalupe de aproximadamente 8 mm de diâmetro.
De acordo com os estudos das imagens impressas nos olhos da Virgem no manto, chegou-se à hipótese de que a Virgem estava invisível diante do grupo no momento que as figuras foram impressas.

Algo ainda mais surpreendente é que enquanto os olhos da Virgem refletem a imagem das pessoas que estavam diante d’Ela, os olhos do Bispo nessa imagem refletem a imagem de Juan Diego ao abrir o manto. Esta última imagem tem um quarto de um milésimo de milímetro.

De acordo com as leis de Purkinje-Samson quando nossos olhos refletem algo, podem se formar até três imagens do mesmo objeto (uma na superfície da córnea; outra em um plano mais profundo, na superfície anterior do cristalino; e o terceiro que se apresenta invertido na superfície posterior do cristalino) ficando as imagens distorcidas pela curvatura da córnea, o que é observado nos olhos da Virgem de Guadalupe, fazendo com que os olhos da imagem tenham as características de um olho vivo.

Em 1956 os doutores Rafael Torrija Lavoignet e Javier Torroella Bueno já haviam observado através de exames oftalmológicos que as pupilas da imagem da Virgem reagiam quando expostas à luz contraindo-se, e voltando ao normal quando o estímulo luminoso era retirado. Verdadeiramente uma imagem viva.


GUADALUPE E A ESTÁTUA ESCULPIDA POR SÃO LUCAS
            
A Virgem quando apareceu para o tio de Juan Diego, se apresentou como Guadalupe. Guadalupe era um nome conhecido na Espanha na região da Estremadura estando ligado a outra aparição da Virgem que tinha raízes no período em que São Lucas Evangelista escrevera  o Evangelho.

Não tendo conhecido Jesus pessoalmente, São Lucas colhia testemunho daqueles que tinham estado ou ouvido as palavras de Nosso Senhor. 

São Lucas acompanhava São Paulo em suas viagens da Palestina à Grécia e esteve presente durante seus sermões. São Lucas também conversava muito com a Virgem Maria que lhe contava sobre Seu Filho, desde Sua infância até os primeiros sermões.
  
O apóstolo evangelista também era médico e artista sendo muitas pinturas e esculturas da Santíssima atribuídas a ele. Uma destas esculturas é a da Virgem com um Menino que foi colocada ao lado de seu corpo quando morreu em Tebas.

Acredita-se que a estátua de Nossa Senhora esculpida por São Lucas tenha saído de Tebas até Constantinopla junto ao seu caixão por ordem de Constâncio, imperador do Oriente em 357 d.C. “Com uma grande precisão o caixão de São Lucas foi levado á igreja com toda a corte imperial. À frente de todos ia o Bispo de Constantinopla, Macedônio, que trazia essa estátua com as mãos erguidas enquanto a procissão chegava ao altar central.” [5]

Mais tarde foi revelado que essa estátua foi um presente do imperador do Oriente, Maurício, ao futuro Papa Gregório Magno, quando este ainda fazia parte da côrte imperial como embaixador do Pontífice. Quando Gregório voltou à Roma tinha duas imagens da Virgem, uma era em forma pictórica e a outra a estátua de madeira que ele levara consigo.

Em 590 d.C. Gregório foi eleito Papa. Deu a estátua da Virgem a seu grande amigo Leandro, Bispo de  Sevilla, onde ficou no altar da catedral por quase um século, desaparecendo durante a invasão árabe à Espanha.  Diz a tradição que alguns clérigos colocaram a estátua numa bolsa e a levaram para um local seguro percorrendo uma antiga estrada romana, a rua dos lusitanos que atravessava Portugal de norte a sul chegando no fim a Cárceres, no centro da Estremadura onde a enterraram num bosque.

Por 600 anos a estátua esculpida por São Lucas foi esquecida apesar das lendas que havia na região sobre a mesma, até que no verão de 1329 Gil Cordeiro, um pastor de Cárceres entrou na floresta para procurar uma vaca que havia se perdido do seu rebanho, vagando por três dias pelas trilhas inacessíveis, ao longo de um córrego chamado Guadalupe como os árabes chamavam. Lá encontrou a vaca caída no chão morta. Quando se aproximou do animal para retirar-lhe a pele a vaca se levantou e em seguida no meio de uma luz brilhante lhe apareceu a Virgem Maia que lhe pediu para ir buscar os frades do povo e que deveriam cavar onde a vaca estava, pois lá encontrariam uma estatueta de madeira que deveria ser venerada. 

No outro dia ao chegar em casa o pastor soube pela esposa que o filho que estava gravemente doente havia sido curado. Assim Gil foi com alguns amigos anunciar o milagre para os clérigos da aldeia. “Todos foram juntos contar aos sacerdotes o que a Virgem tinha dito. E eles destacaram principalmente uma frase que a Virgem dissera: ‘que aqui seja construída uma pequena casa onde todos os pobres que aparecerem recebam pelo  menos uma refeição por dia’. Os sacerdotes se dirigiram o local da aparição, escavaram e realmente    encontraram a estátua de madeira esculpida por São Lucas.” [6]

Logo, às margens do Rio Guadalupe foi construída uma capela que se tornou um lugar de devoção e morada para os mais pobres. O santuário era visitado sempre pelos reis da Espanha Fernando e Isabel onde construíram uma casa e assinaram varias ordens e leis. Um destes decretos diz respeito ao financiamento da viagem de Colombo.

Há evidencias na Estremadura da devoção de Cristóvão Colombo à Nossa Senhora de Guadalupe, como o registro em seu diário de bordo do episódio em que no regresso da América recém descoberta a caravela de Cristóvão Colombo entrou numa forte tempestade. Cristóvão Colombo prometeu que se Nossa Senhora os livrasse daquela tempestade, alguns dos tripulantes deveriam ir em peregrinação a um santuário da Europa e Colombo foi ao de Nossa Senhora de Guadalupe.

Cortez e alguns outros missionários enviados ao novo mundo eram da Estremadura, sugerindo que foram os próprios espanhóis que chamaram a Vigem mexicana de Guadalupe.

Após o decreto do Rei Carlos V, o ministro dos franciscanos na Espanha, Francisco de Los Angeles, enviou um grupo missionário chamado de os 12 apóstolos do México que não conseguiram converter a antiga aldeia.

Diante de todo o ambiente conturbado da conquista espanhola - onde o próprio Bispo Zumárraga foi vítima de um atentado por parte da Primeira Audiência, o governo espanhol no México, escrevendo ao Rei sobre os problemas na nova colônia - havia dificuldade em converter o povo indígena.

Antes de 1531 havia algumas dezenas de sacerdotes entre diocesanos, dominicanos e principalmente franciscanos para mais de 20 milhões de índios.

Foi com a aparição da Virgem de Guadalupe que a evangelização do México obteve êxito onde milhões de pessoas foram batizadas.

“A imagem de Guadalupe parece ter o que chamamos de dom de línguas, isto é, Ela fala a cada um em seu próprio idioma. Aos cientistas fala pela ciência, aos historiadores pela história, aos antropólogos pela antropologia. E ao longo da História podemos imaginar que nas aparições do século XVI Ela tenha falado aos índios através dessa imagem que para eles era um códice. Para os índios a imagem era um modo de se comunicar. E eles leram nessa imagem uma série de mensagens. Uma mensagem de amor.”[7] 


NOSSA SENHORA DE GUADALUPE E A VITÓRIA NA BATALHA DE LEPANTO 

Encontra-se em Génova na Itália uma das cópias mais antigas da Virgem de Guadalupe, datada de antes de 1571.
"Esta imagem chegou à Itália pelas mãos de Filipe II, o Rei da Espanha que a ganhou  de presente do segundo bispo da Cidade do México. Filipe II por sua vez,  a deu ao seu almirante de frota que era um genovês, [Giovanni] Andrea Doria.
Diz a tradiçao que Andrea Doria levou a imagem e a colocou na galera principal da frota católica  na Batalha de Lepanto em que o cristianismo derrotou os turcos." [8]  


Comentário 

Nao é exagero dizer que a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe trata-se de um milagre contínuo que até hoje contraria todas as leis da natureza assim como acontece com o milagre eucarístico de Lanciano.

Temos uma imagem impressa em um tecido absolutamente impróprio para qualquer tipo de pintura e que deveria ter se desfeito em até duas décadas mas que dura por mais de quatro séculos.
A própria imagem não está no tecido, mas sim levitando por assim dizer, a uma distância imperceptível a olho nu e que uma pessoa ao aproximar-se dela a menos de 10 centímetros, não a vê, mas apenas o tecido.

A mesma imagem que por si mesma se restaurou depois do ataque acidental de um ácido e que sobreviveu intacta a um atentado com uma explosão enquanto tudo mais fora seriamente danificado. 


Uma "técnica" de pintura inexistente e cuja pigmentação não tem origem nem vegetal, nem mineral ou animal.

Um tecido que quando medido sua temperatura, apresentou a mesma temperatura de um corpo humano e cujos olhos da Virgem na imagem reagem ao estímulo da luz, onde neles também está impresso uma cena com pessoas, disposta da mesma forma como num olho vivo. Também ao analisar o manto com um estetoscópio, na região abaixo da fita que Nossa Senhora usa na imagem (dando sinal que está grávida) um médico escutou batidas ritmadas de 115 pulsações por minuto, assim como as batidas do coração de um bebê no ventre materno.


Talvez a mais de um século o mundo cristão não precisaria de provas ou da falta de explicações científicas para crer na existência de Deus, mas hoje em tempos de apostasia e também onde o ateísmo transformou-se numa "religião" a simples fé já não basta para o moderno Ocidente outrora cristão.

Não por acaso a Virgem nos deixou estes sinais impressos e cheios de significados em Sua imagem para a nossa era tecnológica e descrente.

A Virgem que aparece com os traços do povo a quem Ela vem para tirar do paganismo. A mesma que através da leitura de Seus olhos na imagem, está diante de representantes de diversas raças como a nos dizer que Ela é Mãe de todos os povos. 


Notas:

Todas os textos numerados bem como a maior parte das informações foram colhidas a partir do documentário "Guadalupe, uma imagem viva" exibido pelo canal History Channel.

1. Gloria Tena, esposa do Prof. Dr. Juan Homero Hernández Illescas.
2. ibid.
3. Monsenhor Eduardo Chávez Sánchez, postulador para a causa da canonização de São Juan Diego.
4. ibid.
5. Historiador Flavio Ciucani.
6. ibid.
7. Adolfo Orozco Torres, Físico da UNAM.  
8. Padre Pietro Tassi, do Santuario della Madonna di Guadalupe em Santo Stefano d'Aveto, Itália.