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domingo, 14 de agosto de 2016

Arcebispo Pozzo sobre FSSPX: Documentos contestados do Vaticano II são não-doutrinais



Por: Maike Hickson (One Peter Five), 9 de agosto de 2016
Tradução: Traditio Catholicae
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Em uma recente entrevista publicada pelo semanário alemão Die Zeit (32/2016), o Arcebispo italiano Guido Pozzo (64), Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei (PCED), fez algumas declarações importantes sobre seu progresso nas negociações com a Fraternidade São Pio X - negociações que caem sob a alçada da PCED. Seus comentários deixam claro que o processo de inclusão formal da FSSPX está avançando e que o Papa Francisco ofereceu uma prelazia pessoal para a FSSPX - semelhante à estrutura em que o Opus Dei opera.

Há uma seção na entrevista que é especialmente digna de nota, na medida em que pode facilitar o discurso doutrinário adequado entre uma vasta gama de católicos conservadores e tradicionais. Nele, o Arcebispo Pozzo explica porque pode ser possível para a FSSPX  ser plenamente integrada nas estruturas da Igreja Católica sem o aceitamento prévio de alguns dos documentos do Vaticano II, isto é, Nostra Aetate, sobre o diálogo inter-religioso; o decreto Unitatis Redintegratio, sobre o ecumenismo; a Declaração Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa; e, por fim, outros textos relativos à questão da relação entre o cristianismo e a modernidade. Ao dizer que "o Concílio não é um super dogma pastoral, mas parte da integralidade [sic] da tradição e do Magistério contínuo", Pozzo deixa claro que existem alguns textos do Concilio que não são doutrinais e, portanto, não são obrigatórios para a consciência católica. Pozzo salienta que "a tradição da Igreja está se desenvolvendo, mas nunca no sentido de uma novidade - que esteja em contraste com o ensinamento anterior - mas que é uma compreensão mais profunda do ‘Depositum fidei’, o depósito autêntico da Fé". Pozzo continua, dizendo que:

“Neste [mesmo] sentido, todos [os] documentos da Igreja devem ser entendidos; também os do Concílio. Estas condições prévias, em conjunto com a obrigação de afirmar o Credo, o reconhecimento dos Sacramentos e do primado papal são a base para a declaração magisterial a qual foi dada à Fraternidade para assinar. Estas são as condições prévias para um católico, a fim de estar em plena comunhão com a Igreja Católica.”

Ao discutir a questão dos documentos específicos do Vaticano II, Pozzo insiste que certos documentos são de fato obrigatórios para os católicos afirmarem e aceitarem, tal como:

“o ensinamento sobre a sacramentalidade do ofício Episcopal e suas consagrações como a plenitude da Ordem; ou o ensino sobre o primado do Papa e do colégio dos bispos, em comunhão com sua cabeça [sic], tal como apresentado na Constituição Dogmática ‘Lumen gentium’, e tal como interpretado pela ‘Nota explicativa praevia’ que foi solicitada pela mais alta autoridade.”

Com relação aos documentos anteriores mencionados acima - Nostra Aetate sobre diálogo inter-religioso; o decreto Unitatis Redintegratio sobre o ecumenismo; e na Declaração Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa - Pozzo diz explicitamente:

“Eles não são sobre doutrinas ou declarações definitivas, mas sim, sobre instruções e guias de orientação para a prática pastoral. Em poder [assim legitimamente] continuar a discutir esses aspectos pastorais após a [proposta] aprovação canônica [da FSSPX], a fim de nos dar mais [e aceitáveis] esclarecimentos.”

Quando perguntado pelo jornalista se veio ao Vaticano agora a idéia de que os variados documentos do Concílio têm diferentes pesos dogmáticos, Pozzo afirma que é muito importante declarar:

“Esta não é certamente uma [tardia] conclusão da nossa parte, mas já era claro no momento do Concílio. O Secretário Geral do Concílio, o Cardeal Pericle Felici, declarou em 16 de novembro de 1964: ‘Este santo sínodo define apenas sendo obrigatório para a Igreja o que Ela declara explicitamente no que diz respeito à Fé e Moral’. Apenas aqueles textos avaliados pelos Padres do Concílio como sendo obrigatórios devem ser aceitos como tal. Isso não foi [mais tarde] inventado pelo "Vaticano", mas está escrito nos próprios arquivos oficiais.”
 
Em resposta a uma possível crítica de que importantes declarações do Concílio, como Nostra Aetate poderia, assim, ser mais completamente e abertamente negada, Pozzo declara:

“O secretário para a Unidade dos Cristãos, disse em 18 de Novembro de 1964, no Salão do Concílio sobre ‘Nostra Aetate’: ‘Quanto à natureza da declaração, o secretariado não quer escrever uma declaração dogmática sobre as religiões não-cristãs, mas, ao invés, normas práticas e pastorais’. ‘Nostra Aetate’ não tem qualquer autoridade dogmática, e, portanto, não se pode exigir de ninguém que reconheça essa declaração como sendo dogmática. Esta declaração só pode ser entendida à luz da tradição e do Magistério contínuo. Por exemplo, existe hoje, infelizmente, a visão - contrária à Fé Católica - que há um caminho de salvação independente de Cristo e de Sua Igreja. Que também foi confirmada oficialmente por último pela própria Congregação para a Fé na sua declaração, ‘Dominus Jesus’. Portanto, qualquer interpretação da Nostra Aetate que vai nessa direção [infeliz e errônea] é totalmente infundada e deve ser rejeitada.” [minha ênfase adicionada]

Pozzo conclui que as discussões em curso da FSSPX devem sempre ser agora sobre "uma hermenêutica dos documentos no fundo da tradição contínua.": "Tradição certamente não é um fóssil sem vida, mas certamente também não significa uma adaptação a qualquer tipo de cultura contemporânea”.

Pozzo ainda mostra a sua compreensão e simpatia para a Fraternidade São Pio X quando ele educadamente conclui sua entrevista com estas palavras:

“Em um momento tão difícil de confusão e falta de orientação que temos hoje, é a tarefa daqueles que querem manter-se fieis à tradição da Igreja promover o re-fortalecimento da fé e da missão cristãs. Espero que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X - quando totalmente integrada – possa também, portanto, ser capaz de dar a sua contribuição a este apostolado missionário e para o fortalecimento da Fé Católica em nossa sociedade e em nosso mundo.”

Arcebispo Guido Pozzo

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