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quinta-feira, 1 de junho de 2017

Os ataques à santa Missa que contribuem para a destruição da Fé

Que a Igreja passa por uma grande crise de fé está cada vez mais evidente. E alguns por falta de conhecimento da doutrina católica podem se perguntar como pode haver uma crise de fé se a Igreja Católica nunca teve tanta popularidade como hoje com igrejas lotadas e muitos de nossos sacerdotes - da mais baixa à mais alta hierarquia - figurando entre celebridades e queridos da mídia. Bem, aí está o problema pois essa popularidade não vem pela defesa inegociável da fé e moral católicas mas da flexibilização e adaptação da Igreja - através de seus sacerdotes e leigos - ao mundo. Onde o pecado já não é mais tido como o verdadeiro mal da sociedade mas sim os problemas sociais. 

E quando falamos da mais elevada expressão de fé católica que é a santa Missa, vemos igrejas lotadas mas não necessariamente devido a uma devoção piedosa e profunda mas pelos atrativos puramente humanos inseridos nas igrejas. Temos Missas que mal se parecem com Missas, do contrário, parecem meras reuniões sociais, muitas vezes com elementos teatrais ou pior, que são verdadeiros shows musicais. Perdeu-se a noção do sagrado e "a perda do sagrado conduz também ao sacrilégio" [1]; em tais Missas os elementos sagrados passam a ter apenas um papel de formalidade. 
Então tomando por verdadeiro o adágio latino lex orandi, lex credendi - a lei da oração é a lei da fé - que significa basicamente que o modo como rezamos reflete o modo como cremos, vemos o quão grave é a crise de fé que estamos imersos.

Pensando nas atitudes direcionadas à santa Missa que deram origem ou que somaram-se para aprofundar a cise de fé na Igreja, um site católico americano enumerou 5 meios pelo qual a fé pode ser destruída. Segue a tradução.
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Por: Brian Williams (Liturgy Guy), junho/2016
Tradução: Traditio Catholicae
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Aqueles de nós que escrevemos sobre a Igreja Católica e sobre a liturgia especificamente, muitas vezes falamos da contínua crise de fé que constituiu grande parte da narrativa pós-conciliar. O que vimos nos últimos quarenta anos é nada menos que a dessacralização generalizada do mais sagrado ato religioso conhecido pelo homem, o Sacrifício da Missa. Infelizmente, o impacto sobre milhões de fiéis, muitos dos quais simplesmente se afastaram da única, verdadeira Igreja é chocante para dizer o mínimo.

Pode ser bom neste momento lembrar o que o Pe. Robert Southard [2] escreveu na edição de abril de 1974 da Homiletic and Pastoral Review (Revisão Homilética e Pastoral):
"A Igreja Católica sobreviverá neste planeta até o fim dos tempos, crendo, ensinando e praticando essencialmente o que Cristo quer dela... Mas devemos entender essa promessa corretamente. A Igreja neste ou naquele lugar  em particular pode ser destruída. Não há limites para a promessa de Cristo; Ela se aplica à Igreja como um todo, não a todos os membros, paróquias ou dioceses, nem mesmo às nações como um todo."
Compreendendo isso como verdade, podemos olhar para ver quais práticas pós-conciliares e atitudes foram introduzidas na Missa que contribuem para a perda do sagrado. Onde um sentido do sagrado foi perdido, um sentido do sobrenatural foi inevitavelmente perdido também, conduzindo a uma generalizada perda da fé.

Os cinco simples meios de destruição da Fé (em nenhuma ordem particular):

1. Fazer da Missa [algo voltado] para o Homem. Nada corrompe o sentido do sagrado mais do que as liturgias antropocêntricas. Missas versus populum [3], a remoção das grades de altar, e exércitos de leitores e ministros extraordinários da Sagrada Comunhão; todos alimentam o nosso próprio narcisismo, a nossa própria compreensão errada da participação dentro da Missa e influi o orgulho no momento em que a humildade é mais necessária.

2. Distribuição da Comunhão na mão. Dom Athanasius Schneider identificou isso como a maior crise na Igreja hoje. A perda de reverência pela Eucaristia leva à perda da crença na Presença Real de Nosso Senhor. Embora muitos tenham oferecido argumentos convincentes em favor da prática tradicional de receber na língua (incluindo Roma), ninguém pode oferecer uma boa defesa para a nova prática que (até a década de 1970) tinha desaparecido completamente da Igreja por bem mais de um milênio [4].

3. Remoção da beleza objetiva das igrejas. O minimalismo arquitetônico pós-conciliar foi nada menos que um ataque contra a beleza. Belos altares e estátuas clássicas foram descartados nos anos após o Concílio [Vaticano II], quando as paróquias começaram a se parecer mais com casas de reuniões quaker [5], em vez de igrejas católicas.
Assim como a beleza física da Igreja foi removida, também foi sua beleza musical. A recuperação da música sacra, foco de grande parte do movimento litúrgico do século XX (do Papa São Pio X à Constituição do Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia), tem sido largamente ignorada em grande parte da Igreja. Instrumentos profanos e como se já não bastasse, até mesmo hinos e canções de louvor protestantes foram introduzidos no culto católico.

4. Inovação. Constante Inovação. Possivelmente nada tenha contribuído mais para a perda da fé do que a incessante tentativa de alterar continuamente a liturgia. Muito como vimos na esfera secular, o espírito de inovação tem sido constante, levando a uma experimentação litúrgica sem fim. Um sentimento de obrigação de transmitir a tradição que eles próprios haviam recebido foi completamente perdido sob os inovadores. Sua arrogância lhes disse que  deveriam sempre reinventar ... que eles poderiam fazer da Missa “melhor”.
A maior tragédia em tudo isso é que os argumentos mais convincentes a favor da Igreja, sua antiguidade, sua imutabilidade, sua constância (Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e eternamente) foram minados por toda [essa] mutabilidade.

5. O nunca fazer referência ao sobrenatural. As quatro últimas coisas. O destino da nossa alma eterna. A realidade do Céu. A realidade do Inferno. A realidade de Satanás e dos demônios. A realidade do Purgatório. Os sacramentos. O preço do pecado. A morte da alma causada pelo pecado mortal. A destruição forjada pela fornicação, contracepção, sodomia, pornografia, aborto. A obrigação de ir à Missa todos os domingos e dias sagrados de obrigação. A necessidade de se arrepender. Confissão sacramental. A necessidade da oração. A necessidade da oração contemplativa. A necessidade de silêncio.
A grande maioria dos sacerdotes e bispos hoje prega com pouco ou nenhum sentido sobre o sobrenatural. (Não surpreendentemente, eles também não conseguem demonstrar um sentido do sagrado ao oferecer a Missa). Não há urgência em seus ensinamentos. Nenhuma apresentação ousada da verdade que  contrarie as mentiras dos revolucionários culturais. Eles são pais espirituais que se recusam a serem por medo de ofender. São médicos espirituais culpados de má prática por se recusarem a diagnosticar a verdadeira doença ou prescrever o medicamento necessário.
Felizmente, nos últimos anos, estamos começando a ver padres mais conservadores recuperando esse sentido do sagrado e do sobrenatural. O axioma tradicional lex orandi, lex credendi é compreendido e abraçado por estes homens santos. Infelizmente, muito poucos bispos (com apenas algumas exceções notáveis) fizeram qualquer coisa para resolver esses problemas. Até que isso ocorra, é provável que vejamos uma perda contínua de fé e com ela, a perda de incontáveis almas.

Notas da tradução: 

[1] LEFEBVRE, Mons. Marcel. Carta Aberta aos Católicos Perplexos. Rio de Janeiro: Editora Permanência, 2015.  

[2] Padre americano autor do livro “The Life of Christ” (A Vida de Cristo) publicado originalmente em 1955 no formato HQ (história em quadrinhos). O livro é indicado para pré-adolescentes e relata – assim como indica o título – toda a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi relançado nos EUA pela editora Angelus Press conhecida pela publicação de livros católicos tradicionais.


[3] Missa com o padre voltado para o povo como na Missa nova. O contrário de versus Deum (voltado para Deus) como acontece na Missa tridentina onde todos inclusive o sacerdote, ficam voltados para a mesma direção durante a Missa.

[4] De acordo com Dom Athanasius Schneider, Bispo de Astana, no Cazaquistão e especialista em Patrística, a comunhão na mão como se vê hoje, nunca foi uma prática dos primeiros cristãos, mas que teve origem no século XVII entre os protestantes calvinistas por estes não crerem na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Ainda afirma o Bispo Schneider que até o século V era necessário purificar as mãos antes e depois do rito, e a mão de quem recebia a comunhão ficava coberta por um corporal, do qual se tomava a partícula diretamente com a língua e nunca se tocava a Hóstia com os dedos. Após o século V, primeiramente no Oriente e em seguida no Ocidente, a administração da Comunhão passou a ser pelo sacerdote diretamente na boca no fiel. Portanto o gesto amplamente difundido hoje de se tocar na santa Hóstia em nada tem a ver com os primeiros cristãos.

[5] Seita protestante anticlerical originada no século XVII na Inglaterra. Os quakers rejeitam todos os sacramentos e qualquer forma de oração ou culto prescrito. Não há pregadores oficiais; em suas reuniões cada qual prega e reza de acordo com suas inspirações.

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